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A Lua mais próxima da Terra e o Sol mais distante.
LUA: Gigante Cósmico!
A Lua mais próxima da Terra (Perigeu)
e o Sol mais distante (Afélio da Terra)
06 de julho de 2023 - por Ricardo J. Vaz Tolentino
Quando observamos a Lua e o Sol a partir da Terra, notamos que os diâmetros angulares desses dois astros normalmente coincidem. Isto porque, apesar de o Sol ser 400 vezes maior do que a Lua, nosso satélite natural está quase 400 vezes mais próximo da Terra do que o Sol. Por esta razão, são possíveis as ocorrências dos eclipses totais do Sol, quando a Lua encobre por inteiro o disco solar.
Porém, na primeira semana de julho/2023, aconteceram dois interessantes eventos ligados aos posicionamentos orbitais da Lua e do Sol, separados por apenas 2 dias um do outro, que colocaram a Lua na posição de liderança em relação ao tamanho aparente.
O primeiro evento foi o Perigeu da Lua ou ponto de sua órbita elíptica mais próximo da Terra, de ocorrência mensal, que aconteceu dia 04/07/2023, por volta das 19:24 (22:24 UT), quando a Lua atingiu uma distância de 360.149 km de nosso planeta (24.251 km abaixo da distância média) e apresentou diâmetro angular de 33’14,78”.
O segundo evento orbital, que é de ocorrência anual, aconteceu em 06/07/2023, quando a Terra atingiu o Afélio ou seu ponto de órbita elíptica mais afastado do Sol. O distante ponto orbital foi alcançado às 17:06 (20:06 UT), quando o Sol ficou a aproximadamente 152.093.258 km da Terra ou 1,01 668 063 546 110 U.A. (cerca de 2.493.258 km além da distância média), apresentando diâmetro angular de 31’27”.
Sobre a Lua:
Quando o assunto é observação astronômica, perante nosso ponto de vista aqui da Terra, a Lua é mesmo um “gigante cósmico”. Nosso satélite natural é a visão telescópica mais rica em detalhes, com diversos alvos num só. Sua rica topografia contém vários mares de lava escura, muitas cordilheiras e montanhas, incontáveis crateras de impacto de todos os tamanhos, como também crateras secundárias, fantasmas e vulcânicas. Do mesmo modo possui numerosos canais, escarpas, cristas rugosas, vulcões extintos e muito mais. Tudo isso é facilmente observável com nitidez, mesmo a partir dos grandes e poluídos centros urbanos.
Composição 1: Algumas das diversas e belas formações presentes no rico relevo lunar. Imagens de frame único.
Imagem 1: A bela paisagem da região da grande Cratera ARCHIMEDES (diâmetro: 81,04 km, profundidade: 1,6 km) e da longa cordilheira dos Montes APENNINUS (extensão: 401 km, altitude máxima: 5,4 km), com a Cratera ERATOSTHENES (diâmetro: 58 km, profundidade: 3,43 km) posicionada no extremo sul da cordilheira, em 28/05/2023, 19:45:20 (22:45:20 UT). Frame único.
Quando o selenógrafo observa a Lua que vemos atualmente, na realidade, ele enxerga o resultado da consequência de incontáveis eventos ligados a impactos, vulcanismo e tectonismo, que aconteceram nos últimos 4,5 bilhões de anos.
Podemos afirmar que, não é monótono observar a Lua, pois ela sempre se apresenta diferente toda vez que olhamos para ela. Nosso satélite natural mostra uma constante alteração no aspecto de suas formações, devido aos seus movimentos, que produzem mudanças de luz e sombras na medida em que o Sol nasce e se põe por sobre seu rico relevo, criando sempre novidades observacionais.
Composição 2: Os movimentos de Selene produzem mudanças de luz e sombras, que alteram dramaticamente as feições de suas formações. A bela baia do Sinus IRIDUM (diâmetro: 259 km) em 3 noites consecutivas. Frame único.
Composição 3: A grande Cratera SCHICKARD (diâmetro: 206 km, profundidade: 3,08 km) em 3 noites consecutivas.
Além de tudo isso, para abrilhantar ainda mais a performance de Selene, existem aquelas atrações extras que podemos observar e registar com imagens, como as ocultações de planetas e estrelas, os eclipses, os misteriosos e efêmeros Transient Lunar Phenomena (TLP), os fortes clarões dos impactos de meteoritos e as pareidolias.
Imagem 2: Marte se aproximando para ser ocultado pela Lua em 06/09/2020, 00:02:34 (03:02:34 UT). Esta imagem foi escolhida como “Foto do Mês” da revista Britânica “BBC Sky At Night Magazine”, em sua edição de novembro / 2020. Foto de frame único.
Composição 4: Sequência de imersão ou desaparecimento de Marte, em seu processo de ocultação pela Lua, em 06/09/2020. Esta composição figurou na seção “Reader Gallery” da revista americana ASTRONOMY, na edição de março / 2021. Fotos de frame único.
Composição 5: Eclipse Lunar Total, ocorrido de 27 para 28 de setembro de 2015. Fotos de frame único.
A Lua também permite a possibilidade de executar surpreendentes descobertas que, nós observadores, podemos fazer. Estou falando de certas formações não catalogadas pela International Astronomical Union (IAU), como “crateras fantasmas”, por exemplo.
Imagem 3: Provável Cratera fantasma (não catalogada) próxima da orla sul do Mare SERENITATIS (Norte para direita nesta foto de frame único). A suposta cratera fantasma foi descoberta pelo autor em 22/02/2011, 02:08:06 (05:08:06 UT). Esta imagem foi publicada no website americano Lunar Photo Of the Day (LPOD) em 13 de outubro de 2011.
Imagem 4: A interessante pareidolia “cabeça de lobo”, causada pela “dupla dinâmica” luz e sombra, descoberta pelo autor em 09 de junho de 2014. Frame único.
Sobre o Sol:
O Sol não possui corpo esférico sólido. O astro rei é formado por uma estrutura intrincada de seis camadas diferenciadas de plasma. Cada uma das camadas gira com uma velocidade diferente. Enquanto a superfície do Sol é composta pela camada conhecida como fotosfera, a atmosfera solar é composta pela cromosfera e pela coroa. Já o interior do Sol é composto pelas camadas convectiva e radiativa, além do núcleo.
Composição 6: SOL fotografado na manhã de 02 de junho de 2023, com filtro H-Alpha (Cromosfera) e filtro Baader Luz Visível (Fotosfera). Fotos de frame único.
A grande fonte energética solar, dissipada nas formas de luz e calor, se origina na fusão nuclear do hidrogênio, pois a composição do Sol é basicamente hidrogênio e hélio. A fusão dos núcleos dos átomos de hidrogênio forma o hélio.
O campo magnético do Sol também gira e constantemente se rompe, causando o surgimento periódico de muitas formações (manchas, proeminências, filamentos, plages, grânulos, etc), fazendo com que sua superfície fique turbulenta e repleta de intensa atividade. Algumas dessas interessantes formações solares só podem ser observadas num comprimento de onda específico.
Composição 7: Sol e suas formações dinâmicas e efêmeras, fotografado com filtro Luz Visível (esquerda - Fotosfera) e Filtro H- Alpha (direita - Cromosfera) na tarde de 21 de maio de 2023, com destaque para a Região Ativa de Manchas Solares AR 3310. Fotos com frame único.
O ciclo de atividades solar acontece num período de 11 anos e atinge um máximo e um mínimo, que são as épocas em que as intensidades das manchas solares aumentam e diminuem. As manchas solares são áreas menos quentes (por isso escuras) que podem ser melhor observadas principalmente na camada solar fotosfera, utilizando filtros de luz visível do tipo Baader. As manchas são criadas por atuações desreguladas de fortes campos magnéticos do Sol, que bloqueiam parte da energia solar que normalmente chegaria à superfície.
Imagem 5: A bela Mancha Solar da Região Ativa AR 2546, fotografada na manhã de 18 de maio de março de 2016. Frame único.
As manchas podem persistir por dias, semanas ou até meses, enquanto vão percorrendo e circundando a "superfície" solar, sofrendo mutações em seus formatos, tamanhos (expansão e/ou contração) e configurações magnéticas.
Composição 7: A enorme Região Ativa de Manchas Solares AR 3354, fotografada na manhã de 29 de junho de 2023, com apenas 1 frame. No momento do registro, a citada Região Ativa apresentava uma área equivalente a 5,3 vezes a superfície total do planeta Terra.
A estrutura visual de uma mancha solar é composta por sua região central mais escura, conhecida como “umbra”, que é circundada pela região menos escura, conhecida como “penumbra. A área de abrangência de uma mancha solar pode superar várias vezes o tamanho da superfície do planeta Terra.
Imagem 6: A proeminente Região Ativa de Manchas Solares AR 3363, composta por apenas 2 manchas, fotografada com frame único na manhã de 09 de julho de 2023.
O Sol também proporciona, além dos eclipses, um amplo pano de fundo para os belos espetáculos de trânsitos, dos planetas Vênus e Mercúrio, através de seu enorme hemisfério visível. Veja na imagem abaixo.
Imagem 7: Trânsito de Mercúrio pelo hemisfério visível do Sol, em 09/05/2016, 09:20:35 (12:20:35 UT). Foto de frame único.
Lua no Perigeu e Terra no Afélio ou “Lua mais próxima” e “Sol mais distante”:
Como mencionamos no início deste artigo, na primeira semana de julho/2023, aconteceram dois interessantes eventos ligados aos posicionamentos orbitais da Lua e do Sol, separados por apenas 2 dias um do outro. Tais posicionamentos acabaram por colocar a Lua na posição de “Gigante “Cósmico”, perante nosso ponto de vista aqui da Terra:
- O Perigeu da Lua (evento mensal) ou ponto de sua órbita elíptica mais próximo da Terra, atingido dia 04/07/2023, por volta das 19:24 (22:24 UT).
- O Afélio da Terra (evento anual), ocorrido em 06/07/2023, às 17:06 (20:06 UT), quando a Terra atingiu seu ponto de órbita elíptica mais afastado do Sol.
Para concretizar mais o entendimento das diferenças de tamanho da Lua e do Sol quando observados da Terra, nesses dois diferenciados pontos orbitais, apresentaremos as imagens dos astros protagonistas, capturadas em momentos bem próximos aos referidos pontos, utilizando a mesma configuração de setup, com telescópio, câmera e montagem que descreveremos a seguir:
- Telescópio Refrator APO Orion Eon 80mm, Câmera Orion StarShoot Solar System Color Imaging IV e montagem Alt-Aimutal Vixen Porta. As fotos foram feitas com frame único.
Composição 8: O Set Up utilizado para registar a Lua e o Sol (Fotosfera).
Abaixo apresentamos a imagem 4, que mostra a foto da Lua (minguante, logo após a fase cheia) obtida em 04/07/2023, às 21:33 (05/07/2023 00:33 UT), cerca de 129 minutos após o momento exato do Perigeu. Nesse instante, a distância da Terra era 356.528 km e o diâmetro angular aparente da Lua apresentava 33’ 30”. A lunação estava em 16,83 dias e sua iluminação em 96,5 %.
Imagem 8: Lua minguante em 04/07/2023, às 21:33 (05/07/2023, 00:33 UT), 129 minutos após o momento exato do Perigeu. Foto de frame único.
Abaixo apresentamos a imagem 9, que mostra a foto do Sol (Fotosfera) capturada em 06/07/2023, às 15:57 (18:57 UT), quando a distância da Terra era 152.091.000 km e o diâmetro angular aparente estava com 31' 27". Essa imagem foi registrada apenas 69 minutos antes do Afélio da Terra, momento em que o astro rei ficaria mais distante.
Imagem 9: Sol em 06/07/2023, às 15:57 (18:57 UT), 69 minutos antes do Afélio da Terra. Foto de frame único.
Para podermos apreciar melhor a diferença de diâmetros aparentes entre a Lua (fotografada 129 minutos após o momento de seu Perigeu, dessa forma, mais perto da Terra) e o Sol (fotografado a 69 minutos antes do instante do Afélio da Terra, logo, mais distante de nosso planeta), apresentaremos uma composição fotográfica com sobreposição de imagens de semi-hemisférios. Note que, no momento da captura da foto da Lua, ela estava numa distância de 356.528 km da Terra e seu diâmetro angular aparente era 33’ 30”. E o Sol, no momento da captura de sua imagem, estava numa distância de 152.091.000 km da Terra e seu diâmetro angular aparente de 31' 27".
Composição 9: Os Semi-hemisférios lunar e o solar, lado a lado para comparação, em relação aos parâmetros orbitais especiais. Fotos de frame único.
Uma outra interessante visualização prática dessa condição de diferença entre os diâmetros angulares aparentes da Lua e do Sol, causada por parâmetros orbitais distintos, seria colocar as imagens dos dois referidos astros lado a lado.
Composição 10: As imagens da Lua e do Sol lado a lado, mostrando a diferença angular dos diâmetros, causada pela proximidade do Perigeu da Lua e do Afélio da Terra. Fotos de frame único.
Apresentando mais um motivo de que a Lua é realmente um enorme alvo astronômico, quando comparado a outros corpos celestes como os planetas, vejamos na composição fotográfica abaixo, mais um motivo para reforçar esta afirmação.
A referida composição de imagens mostra a comparação dos tamanhos de JÚPITER, SATURNO, MARTE e da cratera lunar COPERNICUS, quando fotografados pelo mesmo conjunto telescópio / câmera. É importante notar que JÚPITER, o maior planeta do Sistema Solar, quando observado da Terra, tem aproximadamente o mesmo diâmetro angular da cratera COPERNICUS, que possui 93 km de diâmetro. Isso demonstra o alvo colossal que é o nosso satélite natural, configurando-se num enorme território extraterrestre a ser observado, estudado e explorado, não só por naves espaciais robóticas ou tripuladas, mas também por telescópios baseados na Terra.
Composição 11: “Lua, Gigante Cósmico”! Fotos da Lua e Planetas obtidas com frame único.
Isto posto, perante nosso ponto de vista aqui da Terra, a “Lua é realmente um Gigante Cósmico”!