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Muita tristeza! O grande amigo Nelson Travnik partiu para o céu.
Nelson Travnik, um dos maiores astrônomos do País, morre em Campinas
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Muita tristeza! O grande amigo Mestre Nelson Alberto Travnik partiu para as estrelas!
Homem honrado, pai de família exemplar, patriota e pioneiro na astronomia brasileira! Com sua linda e histórica carreira foi um astrônomo muito experiente e professor, que levou a ciência para jovens estudantes, desenvolveu muitas pesquisas, ministrou muitas palestras e escreveu vários artigos importantes.
Grande amigo e exemplo. Um lindo ser humano. Expoente da astronomia brasileira! De descendência austríaca e grande admirador de Nicolas Camille Flammarion, foi membro titular da Sociedade Astronômica da França. Não será esquecido!
Nelson Travnik e o TLP em Mons PITON.
TLP (Transient Lunar Phenomena) - fenômeno lunar transiente:
Um fenômeno lunar transiente ou TLP (Transient Lunar Phenomena) é um fenômeno lunar transitório, breve ou passageiro, sendo um assunto misterioso e não comprovado, que talvez tenha ligação direta com atividades vulcânicas lunares remanescentes.
TLP é um evento temporário observado na superfície da Lua, que se manifesta tomando as formas de aparições de brilhos anormais, obscurecimento ou mudança de cor em determinados pontos da superfície lunar, flashes ou breve cintilação.
Tais eventos têm sido relatados por muitos observadores da Lua desde a época do astrônomo inglês Frederick William Herschel (1738 — 1822) e costumam ser tomadas como evidência de atividade vulcânica remanescente ou escape de gases na superfície lunar.
A criação do termo TLP ocorreu em 1968 e é atribuído ao famoso astrônomo amador britânico Sir Patrick Moore (1923 - 2012), autor de muitos livros e artigos sobre astronomia, apresentador de programas de astronomia em rádio e Televisão (The Sky at Night – de 1957 até 2012, num total de 721 episódios) e colunista da revista inglesa Sky at Night.
As aparições rápidas de luzes, cores ou mudança de aparência no visual, poderiam demonstrar a existência de manifestações vulcânicas, escape de gases ou outros processos geológicos que supostamente implicariam que a Lua não estaria geologicamente morta.
TLP é uma das poucas áreas de estudo de caráter genuinamente científico que resta para o selenógrafo amador, porém é uma área altamente controversa, pois tais fenômenos, ainda hoje são mal compreendidos. Porém, durante a corrida espacial, objetivando pavimentar o caminho das missões APOLLO com toda a segurança possível, para a conquista da Lua, a NASA levou a sério a questão das manifestações de TLP.
O grande astrônomo amador brasileiro Nelson Travnik e o projeto LION da NASA:
Para apoiar as missões APOLLO, que culminaram com a caminhada do primeiro homem na Lua em 20 de julho de 1969, ocorreu, previamente por parte da NASA, uma convocação mundial para observações dos chamados TLPs. A NASA encarava esse assunto com seriedade, face a observação de vários fenômenos que há séculos vinham sendo relatados por renomados astrônomos. Para tais fenômenos, não se encontravam explicações satisfatórias. O Chronological Catalog of Reported Events (NASA TR R 277), enumera mais de 5 centenas de constatações visuais, feitas a partir de 1540, antes mesmo de Galileu Galilei apontar sua luneta para o céu.
Cada país participante contou com uma coordenação escolhida por especialistas da NASA e do Smithsonian Observatory. A Dra. Barbara M. Middlehurst, da Universidade do Arizona e representante da NASA, esteve no Rio de Janeiro e entregou a coordenação do programa de observação lunar mundial, conhecido como LION (Lunar International Observers Network), ao cientista e astrônomo Dr.Ronaldo R. de Freitas Mourão, que além de colegas profissionais, convocou seis dos mais experientes astrônomos amadores brasileiros para o início do LION, dentre os quais, Nelson Travnik, então diretor do saudoso Observatório Astronômico Flammarion, em Matias Brabosa / MG.
Foto: O veterano e simpático astrônomo Nelson Travnik em 2015.
As observações de Travnik e o flagrante de TLP em Mons PITON:
Nelson Travnik atuou ativamente no projeto LION, executando o patrulhamento sistemático das formações lunares. Isso lhe rendeu o flagrante de um TLP no Mons PITON.
Por ocasião da missão APOLLO 13, no dia 13 de abril de 1970, por volta das 22h06m UT, através de observações com filtros especiais e capturas de imagens em 4 chapas fotográficas (filme Kodak Tri X Pan 400ASA), Travnik registrou um brilho forte e incomum no Mons PITON. Nesse instante, a colongitude selenográfica do Sol apresentava-se em 349,5º e a qualidade do céu (seeing) mostrava-se como G (Good).
O referido registro de TLP foi enviado para a NASA e, posteriormente, tal fenômeno foi confirmado por outros observadores.
Na observação e registros do TLP em Mons PITON, a partir das instalações do Observatório Astronômico Flammarion, em Matias Barbosa / MG (LAT: S 21º 51’ 54” e LON: W 43º 19’ 35”), Travnik utilizou um clássico telescópio refrator acromático francês Clavé, com 100mm de objetiva e distância focal igual a 1500mm (razão focal f/15), um típico equipamento planetário.
Foto: Observatório Astronômico Flammarion, em Matias Barbosa / MG
Mons PITON é típico monte lunar maciço e isolado, com encostas pouco íngremes, que se eleva por cerca de 2,3 Km acima da superfície de lava lisa e escura circundante, apresentando 25 Km X 25 Kn em sua base. Ele está localizado na parte leste do Mare IMBRIUM, nas coordenadas selenográficas LAT: 40° 36′ 00″ N e LON: 01° 06′ 00″ W, cerca de 90 Km a oeste da cratera CASSINI.
Por ser uma formação isolada no Mare IMBRIUM, esta montanha pode formar sombras com muito destaque quando iluminado pela luz do Sol em posição oblíqua, durante o amanhecer ou ao anoitecer lunar.
Existe um par de pequenas "crateras satélites" próximas ao Mons PITON, posicionadas logo ao sul, que são Piton A (diâmetro: 6 Km) e Piton B (diâmetro: 5 Km). A cratera situada a noroeste de Mons PITON, que tem 13 Km de diâmetro e 2,5 Km de profundidade, é chamada PIAZZI SMITH.
Mons PITON foi nomeado em homenagem a uma montanha na Ilha de Tenerife, a maior e mais populosa das 7 ilhas que compõem o arquipélago espanhol das Canárias.
Composição: Mons PITON fotografado em várias oportunidades por Observatório Lunar Vaz Tolentino (VTOL) e Mons PITON fotografado em voo orbital pela sonda lunar americana LRO (Lunar Reconnaissance Orbiter) da NASA.
Imagem: Perfil Altimétrico W - E de Mons PITON - NASA / LRO QuickMap.
Imagem: Perfil Altimétrico N - S de Mons PITON - NASA / LRO QuickMap.
Travnik e um novo TLP em Mons PITON:
Novamente, dessa vez em observações realizadas no dia 17 de julho de 2002, entre 23h15m UT e 23h30m UT, a partir do Observatório Municipal de Piracicaba / SP (LAT: S 22º 42’ 30.0” e LON: W 47º 38’ 00.8”), seu diretor Nelson Travnik flagrou outro TLP em Mons PITON. Nessa oportunidade, um brilho intenso em Mons PITON chamou sua atenção. Paralelamente, não muito longe de Mons PITON, ao norte do Vallis ALPES, aproximadamente nas coordenadas selenográficas LAT: 50º N e LON: 02º E, uma mancha esbranquiçada apresentava um aspecto singular e indefinido, como se fosse uma nuvem circular, bem diferente das visões lunares habituais.
Tal cenário foi observado através de um clássico e grande telescópio refrator acromático alemão Steinheil, com 175mm de objetiva e distância focal 2620mm (razão focal f/15) e registrado em oito negativos (Kodak T Max 100ASA) com aumentos diferentes e emprego de filtros. Nessa oportunidade, a colongitude selenográfica do Sol apresentava-se em 348,6º e a qualidade do céu (seeing) mostrava-se como G (Good).
Foto: Observatório Municipal de Piracicaba / SP.
Travnik relatou que manteve o mesmo critério visual de avaliação do cenário de TLP de 1970, quando os raios solares começam a atingir o cume de Mons PITON, para analisar a outra situação do fenômeno ocorrido em 2002. Travnik também informou que, o conhecido selenógrafo brasileiro Prof. Rubens de Azevedo, citou em seu livro intitulado “Lua, degrau para o Infinito” (Edart Livraria Editora, SP, 1962), uma recomendação para a observação sistemática de Mons PITON.
Foto executada com apenas 1 frame em 21 de junho de 2018, 19:27:04 (22:27:04 UT).
O Projeto LION:
A missão dessa equipe era monitorar a Lua por horas a fio, e relatar à NASA qualquer fenômeno percebido em sua superfície. Isso exigia muita dedicação e experiência dos astrônomos, principalmente numa época em que não haviam muitos recursos tecnológicos disponíveis. Ao final do programa em 1971, de todos os 13 países participantes, o Brasil, juntamente com os Estados Unidos, alcançaram o maior número de TLPs registrados.